quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ensaio de partir

- Por que você teve que ir? - Ela perguntou.
Ao final da frase a resposta já estava declarada, automaticamente. Porque pessoas vão embora. De vez em quando, partem antes de fazer falta. Em outros casos, permanecem por tanto tempo que parece nunca irão. No entanto, eventualmente, partir é algo que vai acontecer. A não ser, é claro, que quem vá seja você mesmo.
Algumas vão embora por elas mesmas; insatisfação. Outras deixamos ir; desvalorização. Se nenhum dos dois motivos as afastar, a morte vem para fazer cumprido o destino: nada dura para sempre. O fim é parte humanidade; manutenção da vida.
E como fazem isso bem, não é? Partir. Porque, no final, não é só o ir embora que conta; é partir o coração em pedaços mesmo. Talvez o verbo nem tivesse esse significado de abandonar se não fosse associado ao coração quebrado que quem vai deixa para trás.
Mas é natural, claro, nos faz permanecer em movimento, o relógio sempre marcando suas badaladas. Nunca vai parar de acontecer, entretanto. Assim como nunca será anestesiada a dor.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

CAMINHOS OPOSTOS

Era noite quando constatei que a temperatura quente poderia ser considerada refresco para o forte sol do dia. Não parando por aí, reparei na iluminação; amarela como eu gostava. Ao longe, conseguia ver as luzes dos prédios que ladeavam a lagoa. A vista era favorável, mas não o mais importante. Registro essa parte para que quando feche os olhos você possa imaginar, quem sabe acreditar, que pode ser real.
Eu o encontrei. Espiei-o de longe por alguns momentos. Ele e o cabelo espantado contornando feições sonolentas. Uma vez ele me disse o quanto é interessante se manter um pouco longe da pessoa que você gosta, pois é a única chance de vê-la por inteiro. De fato, é. Por alguns minutos, você se perde analisando todos os detalhes.
Quando me aproximei, vi um sorriso. Foi tudo que eu precisei como recompensa do dia cansativo inteiro. Sem intenção de soar melosa, esse é um texto sentimental. Espero que, caso venha a encará-lo dessa forma, leve de troco a sensação que tive ao vê-lo ali sentado como se fosse sua.
Conversamos por um tempo. Queria que parecessem palavras intermináveis para que eu ficasse presa naquele momento, mas não. Desejava mais e mais.
A parte engraçada sobre a noite é que os caminhos eram opostos quando nos despedimos. Atravessei a rua, o vi partir. Mas, de alguma forma, sempre voltamos a nos encontrar. Ir embora significava apenas sentir saudades e esperar pela próxima vez.