sábado, 22 de junho de 2013

I used to be my own protection

Ouvindo essa música agora, parece que tudo passa a fazer sentido. A progressão dos acordes acompanha o coração que bate mais forte descobrindo sentimentos não explorados. Ver o seu rosto, detalhando seu sorriso... A visão que lembro em câmera lenta acompanhando o ritmo da melodia que nem sequer combina com o estilo da banda. Só me faz pensar no quanto não era pra ser, mas se tornou (em todas as coisas que passam por isso). E se tornou o tipo de coisa que me faz correr de medo e me afastar, construindo muralhas com cobertores.

Se eu estiver longe, é porque descobri que posso estar gostando. Se estiver perto, é porque estou matando saudades antes de esconder o sangue pulsando que cora as maçãs do rosto. De um jeito ou de outro, estarei sempre vivendo presa nos meus próprios pensamentos.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Fora do disco: Eles

Se ao menos ele soubesse que tão perto dele havia alguém que o enxergou. Mas então ele diria que ela não o conhecia, desmerecendo seu olhar. Ela contrairia uma raiva repentina e contrariaria ele. Até que partindo do debate, e somente assim, as coisas pudessem se ajeitar. E olha que muita gente evita o confronto, sem saber que apenas com ele as coisas ficam claras o suficiente para serem resolvidas; é o fim da mentira fingida.
Se ela soubesse que ele queria estar ao seu lado uma quantidade imprevisível de tempo que poderia se tornar um infinito, ela diria que infinito não existe. Que só dá para saber que durou todo o tempo quando o tempo acaba e então não restariam palavras para escorregar por meio dos lábios mortos quando a hora chegasse.
E essa tornou-se uma história sobre comunicação e a falta dela. Existem muitos erros e acertos, em todas as áreas possíveis. Mas irremediável mesmo é achar que adivinhação existe.

Lado B: Ele

Eu nunca vi um sorriso tão lindo - ele pensou.
"E os olhos refletem o céu. Já passei na frente dela três vezes e tudo que ela faz é abaixar a cabeça; não me encara quando a olho. Rabisca algo que nem sei o que é mas parece interessante por ser. Não ousaria incomodá-la. Inexplicavelmente, sinto que ela poderia ser tudo para mim e logo em seguida temo que muito seria demais, e eu seria pouco. Não nego que me esforçaria, mas como poderia lidar com um brilho de desprezo naqueles olhos?"
Ele procurou uma posição no ônibus que permitisse continuar a ficá-la pelo vidro embaçado, contando os segundos para que a miragem desaparecesse. Sabia que por motivos culturais era esperado dele alguma iniciativa. No entanto, ela parecia tão desinteressada.
"E como poderia estar diferente disso? Ela, quase um anjo, notavelmente especial e sem comparação com qualquer um que passava. Se ao menos ela soubesse que eu só tenho olhos para ela... Se bem que nesse caso eu seria apenas mais um; mais uma figura desbotada no quadro dela."
Como alguém que não tinha valor, ele seguia os dias olhando para o mundo, de fora. Nunca chegou a participar. Se sentia frágil diante de todas as hipóteses ruins e pouco para tudo que pudesse lhe acontecer de bom, não digno de merecimento. Como caracterizar como vida algo que nunca existiu? Algumas pessoas acham que não têm que mudar. Mas sem melhoria estamos só andando em círculos; talvez em espiral para baixo, nos afundando no poço.

Lado A: Ela

Então ela o viu. E, imediatamente, o que havia antes perdeu a importância. Como se a figura masculina parada diante dela fosse destacada do restante do ambiente, ressaltando seus contornos e roubando toda a cor do cenário até deixá-lo em tons de cinza. "Perfeito demais para estar tão perto". Mas, já que perfeição pertence apenas ao desconhecido, a descrição tornou-se simplesmente não literal. Pensou em falar com ele, mas não saberia o que dizer. Ou, talvez, não quisesse estragar a beleza da cena congelada.
Milhares de hipóteses percorreram sua mente numa sobreposição que parecia infinita - contando a distância em tempo que faltava para ver o fim. Não queria imaginar que ele podia não ser tão legal quanto parecia. E, na tentativa de não denegrir o status, optou por unicamente observar enquanto ele seguia seu curso, entrando no ônibus de viagem.
Ele sentou na janela e ela no ponto de frente para ele. Tão perto em distância porém tão longe por falta de movimento. Pensou em como seria mandar um bilhete com seu número de forma anônima. Redigiu conversas misteriosas e provocantes mentalmente.
O motorista virou a chave na ignição e o barulho do motor despertou-a do transe. Não escreveu. E o ônibus se foi.
O medo de estragar as coisas a impediu de seguir em frente mas, no final, não possuia algo para proteger ou preservar. O que queria deixar de perder se já não tinha nada? E essa é uma história sobre antecipação: o medo de perder aquilo que conquistou antes mesmo de tê-lo feito.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Enquanto ela estiver feliz

Eu nunca fui o tipo de pessoa que reclama a atenção de um amigo que se afasta um pouco por começar um relacionamento. A bem da verdade, não entendo do que as pessoas reclamam. Fico simplesmente satisfeita em saber que aquela pessoa que eu tanto gosto está bem, mesmo que longe. Enquanto ela estiver feliz, eu não tenho com o que me preocupar. E quando deixar de estar, vou estar no mesmo lugar. Pessoas importantes na minha vida podem ficar em qualquer tanto de distância de mim. A amizade, como uma reta, ainda seria capaz de nos manter ligadas. Então sei que não tenho nada com o que me preocupar.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Comodismo

É a vontade de permanecer na inércia que se sobressai. Nenhum príncipe de cavalo branco iria resgatar Rapunzel se as tranças não permitissem a subida dele. Simplesmente não há força para sair da cama. Se houvesse, ela mesma desceria as escadas e correria atrás de quem sempre procurou. Mas continuou estática pensando nas consequências de cada movimento. Cada passo, tantas hipóteses. Não conseguia calcular tudo. Enquanto não calculava, não me movia. Enquanto não se movia, começava a se esquecer como andar. E, então, não lembrava o propósito dos pensamentos - fechava os olhos, tornando-se uma bela adormecida. Não dormia no pátio do castelo, havendo a possibilidade de alguém encontrá-la por acaso. Mas sim continuava em sua torre trancada por dentro, esquecidamente desmaiada. Antes, não sabia como sair e agora desistiu de tentar. Abraçou as sombras em seu quarto e desligou o raciocínio que havia trazido tanta dor de cabeça.