quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Julián

Escrevi tanto para desabafar que esqueci de descrever o irreal. De fechar os olhos ouvindo aquela música eletrônica que vibra o coração junto. Sentir-se em outro lugar, onde as luzes piscam sem fim, coloridas, inconstantes. Esqueci de aparecer para dizer que o toque do seu corpo ficou gravado no ritmo da batida. Que foi bom te conhecer de uma forma não dramática, sem pressão. Que os dias se tornaram festa.
Esqueci de escrever o tempo todo. Da fila do pão ao tédio na aula. Nem que fosse para dizer que o dia está confuso hoje. Chove, faz sol, o calor impede de chover mais e tem nuvens tapando o sol. E o clima muda. O tempo todo.
Não lembrei nem que posso inventar um amor da minha cabeça para passar o tempo. Faltou a memória de que sou um ser mágico, inexistente, perdido. Que posso gastar páginas descrevendo o tom da minha parede de acordo com a iluminação espalhada em gradiente. Com listras. Sem listras.
Fiquei com preguiça de ter que pensar em finais brilhantes para textos. Daqueles impactantes e cheios de sentido quando, na verdade, minha cabeça está trance music. Descrevo apenas o impalpável. Não penso.
Gosto de ser transportada para esse mundo de balada e apenas mover meus dedos pelo teclado acompanhando a música vazia, animada. Gosto mais de saber que essas páginas estarão sempre aqui para me acolher.

sábado, 17 de setembro de 2016

Depois de você

Não, você não sabe o que fez. Não, não me deixou nenhuma escolha a ser feita ou decisão a ser tomada. De nenhuma forma que imaginei meu futuro, pensei que isso seria real. Pessoas já me magoaram. Claro que já. Até pessoas com pouca intimidade. Afinal, posso ser sensível e frágil, às vezes. Mas nenhuma delas me fez pensar que eu nunca mais vou poder confiar em alguém.

Querer ser sozinha, sempre quis. Tinha o costume de fugir de qualquer provável futuro relacionamento. Isso porque fico melhor só. Agora, pensar que, nem que eu queira, nem que eu me apaixone, vou poder ter um relacionamento, dói. Dói porque percebo que talvez meu senso de julgamento não tenha sido dos melhores. Porque se até você foi capaz de não ser confiável, o que eu posso esperar de qualquer outra pessoa?

Deve ter, claro, alguém no mundo que jamais faria mal. Eu sou assim. Mas, depois de você, eu não tenho mais parâmetro.
Então, não é pelo término que hoje sinto dor. Sempre fui platônica.
É pela falta de perspectiva em relação ao futuro.
É por saber que alguém como você teve coragem de pegar meu ponto vulnerável - Justo aquele, o mais difícil de conquistar - e perfurá-lo. Diversas vezes. Sem piedade.