sexta-feira, 23 de março de 2018

 Eu lembro da escola. Lembro das meninas populares e seus espelhos por toda parte, penteando o cabelo perfeito; retocando o batom. Lembro dos banheiros lotados das mesmas garotas se observando. Hoje, observo as pessoas tirando selfies, fazendo pose. E decidi escrever sobre isso porque nunca consegui fazer o mesmo, e nem consigo agora. Tenho dificuldade inclusive de explicar como me sinto.
Sempre achei que era um privilégio das pessoas bonitas e permaneço com esse trauma. Um receio de que as pessoas irão me julgar, pensando que, uma vez que sou feia, não devo demonstrar a vaidade de me olhar na frente do espelho.
A estranheza que reconheço quando me comparo com as outras pessoa é uma constante em minha vida. Sempre tive dificuldades de me sentir incluída, de me sentir igual.
Talvez fosse o cabelo rebelde, cheio e seco. No início, a magreza absurda. Agora, a gordura saliente. As roupas, sempre fora de moda. A verdade é que eu nunca cuidei muito da minha aparência. Mas isso se deve muito mais ao fato de me sentir um caso perdido e ao receio das pessoas acharem errado eu desperdiçar esse cuidado comigo. É meio que, se você não faz nada as pessoas vão entender que você é horrível e pronto e, se você faz algo como se arrumar, as pessoas vão achar que você é horrível mas não se enxerga.
Nossa! Acho que nunca tive tanta dificuldade para me expressar! Normalmente meus textos saem de um fôlego só.
O motivo provavelmente é o resultado de tantos anos me reprimindo com medo de me expor, e do complexo de inferioridade complexo demais.
Talvez ninguém tenha noção do quanto é dolorido para mim colocar maquiagem, me arrumar, tirar fotos, falar em público, falar com pessoas desconhecidas, ir para lugares novos em que eu não sei como devo me vestir... E talvez ninguém tenha noção de que eu não levo tão na brincadeira sim as brincadeiras que elas fazem.
O que eu queria de verdade era ouvir "você não é tão gorda como você pensa, você é linda" (escuto, às vezes, e nem consigo acreditar). Queria também ir num salão de beleza em que o cabeleireiro não me olhasse com reprovação, e dissesse "você não cuida do cabelo? Mas seu cabelo é muito bonito naturalmente sim".
Bem, se é difícil demais para mim escrever sobre isso, imagine superar.
Mas eu tive uma nova ideia. Talvez, se eu brincar bastante sobre minha aparência, responder as gracinhas com um excesso de falsa confiança, "tá maluco? eu sou lindíssima, meu bem", talvez eu possa convencer a mim mesma de que eu não sou tão ruim quanto enxergo.

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