quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Culpei a ele

Culpei a ele. Assim como culpei a mesa muito pequena ou a cadeira reclinável demais. Culpei as unhas grandes e as constantes reclamações de barulho registradas pela minha irmã aos gritos do quarto ao lado.
Culpei a falta de tempo e a sobra de tempo que me levava ao tédio.
Culpei autores por escreverem tão bem que me inibem. Mas também culpei autores que vendem livros vazios só pelo comércio que me enchiam de náuseas.

Culpo constantemente inúmeros fatores da minha vida por não estar escrevendo tanto quanto gostaria, quando o maior erro é simplesmente meu.

Em alguns momentos, escrever parece totalmente inútil se ninguém vai ler. Mas ao mesmo tempo é tão grandioso, como se fosse parte de algo maior. E é nesse ponto que eu me perco, porque parece que estou lendo um livro em vez de viver. 

Às vezes parece doer por sentir que não sou real. Como se fosse um personagem inventado por alguém que queria mais das pessoas. 

Tenho um mundo de contos e dramas guardados que mais parecem aprisionados dentro de mim e que transbordam quando menos espero como se fossem verdades, afogando, ainda que temporariamente, a culpa e me libertando da improdutividade.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Espelho

Em algum momento da minha vida eu passei a não me reconhecer em espelhos e fotos. Tinha uma imagem presa em mim que foi mudando sem que eu percebesse.

Lembro que nunca tinha a confiança em declarar que era bonita, mas reconhecia que me arrumava e às vezes me sentia bem comigo mesma. Coisa que nesse momento parece impossível até com todas as arrumações.

O que houve? Como eu consegui piorar tanto?

Como eu consigo me sentir tão inferior mesmo me esforçando tanto para mudar?

Hoje tiro fotos e afirmo ironicamente coisas para tentar me convencer que é tudo problema de auto-estima. Mas não consigo lembrar de quando foi a última vez que me senti atraente.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

CEMITÉRIO DOS LIVROS ESQUECIDOS

É impressionante perceber o quanto uma história tem um poder tão forte sobre mim. O quanto eu me sinto completamente transportada para outra realidade a ponto de esquecer de minha própria e me transformar em personagem ou até em cenário. 
Quando paro de ler por alguns instantes, meu coração fica apertado, em agustia, repleto de um sentimento de estranheza da minha própria vida.
Durante um tempo, tudo que eu leio parece vivido em alguma vida; parece tão real. Como se aquelas palavras escritas estivessem falando de mim todo o tempo. Ou como se eu mesma tivesse parado para debulhar em letras os sentimentos que me transbordam. Como se de qualquer forma eu tivesse algum tipo de ligação com aquela história.
Você conhece esse sentimento? Porque me parece que muitas pessoas não gostam de ler porque nunca souberam como é fugir para dentro de um livro e se esconder nele. Talvez as pessoas que achem chato nunca encontraram o gênero, escritor ou livro certo.
Por hora, preciso dizer que Carlos Ruiz Zafón detém um pedaço da minha alma em seus mundos.