sábado, 26 de abril de 2014

In the crossfire

Finalmente a hora da verdade chegou. Aquela em que estava de frente a ele para dizer tudo que eu estava ansiosa para falar. Despejar toda a raiva que senti, como se fosse uma boa ideia. No entanto, assim que me aproximei, caí em seu abraço. De súbito, tudo desapareceu. Fechei os olhos e senti seu abraço. Percebi que não o via já fazia um bom tempo. Fui invadida pela vontade de contar como meus dias têm sido, de entrelaçar meus dedos nos cabelos dele, até perdê-los de vista. Era difícil pensar em soltá-lo do abraço. Então eu senti seu perfume, tão familiar, tão presente na minha alegria. Lembro que queria esquecer tudo e dormir ali mesmo, em pé. Todo peso que senti foi jogado fora, porque ele estava ali. Percebi que os sentimentos ruins eram, sinceramente, apenas ausência. Saudade.Tudo que eu queria foi suprido naquele abraço. E, é claro, eventualmente tive que soltar, ter uma conversa, viver. Mas, nunca vou esquecer que toda a dor que eu sentia foi embora, só de tê-lo por alguns momentos em meus braços, pra nunca perder, e estar em seus braços, pra sempre me proteger.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Inacabado até você voltar


Eu devia ter te beijado mais, antes que fosse embora. Não é como se você tivesse partido para sempre. É que a falta que você faz me deixa sem consolo. Sem rumo.
Se eu tivesse fechado os olhos durante o último beijo, seria como se eu pudesse guardar comigo a sensação de te ter e, sendo meu, você não precisaria mais ir. Como se a pressão que seus lábios fizessem pudesse marcar minha boca, desmoldando-a. Conservando-a doce e vermelha.
Devia ter olhado o fundo dos teus olhos. Só então teria a oportunidade de ver minha própria imagem refletida e aprisionada no brilho deles. Poderia fechar minhas próprias pálpebras e sonhar que seria levada com você, para onde fosse.
Certamente poderia ter dito uma vez mais que você criou sentidos em mim, sem que eu pudesse explicar. Quem sabe minhas palavras ecoariam nas curvas da tua orelha, como sussurro, e te fariam achar que minha opinião é sua opinião. Então, estaria de volta à minha porta antes que eu tivesse entrado no banho.
Penso em várias hipóteses. Mas não há mais de um objetivo.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Observador

Ela tinha mesmo essa estranha personalidade. Do tipo que nos faz sentir bobos pelas crenças que temos e, normalmente, não percebemos que são tolas. Quer dizer, tolas não! Deixei que ela entrasse em minha mente uma vez mais. Perfeitamente cabíveis, isso sim eram! Mas toda vez que a olho diretamente nos olhos, ou encontro um sorriso preso num dos cantos dos lábios, tenho dúvidas. Talvez nem dúvida seja a palavra correta. É mais como uma certeza de que estou errado.
Ela ri do que sou e tudo que quero fazer é provar a ela meu valor. E... por quê? Sem que eu sequer notasse quando começou, a opinião dela sobre mim valia mais que a minha própria. Ela me desafiava. E eu, que nunca havia me preocupado em definir meus conceitos, apenas vivia. Cumprindo as obrigações. Desfrutando dos hobbies. Nunca parei para analisar minhas intenções e objetivos. Observar as pessoas que me cercam e os ambientes que cercam nós todos.
Cada pergunta que ela arremessava contra mim fazia com que eu me sentisse menos real. Como se nunca tivesse experimentado a vida como devia ser. Como se o meu ser se resumisse a uma mera existência. Mais uma pergunta e era como se eu estivesse dormindo antes de conhecê-la e o que eu tinha por memória eram apenas sonhos. Irrelevantes; descontinuados. Já ao lado dela eu me sentia acordado. O ar parecia menos artificial e mais leve. Era tão fácil flutuar que as vezes os papeis se invertiam e parecia ela o sonho.
Droga. Ela me fazia pensar. E pensar chega a doer.
Será que era melhor estar adormecido? Inerte; reativo.
Acho que no ponto que se chega a essa pergunta, já não há mais volta.

domingo, 6 de abril de 2014

The Walk-away Professional


Sem cerimônia, a porta se fechou
Deixando para trás estrondo e saudade
Não poderia ficar se não quisesse.
Mas... não poderia ficar?
Não poderia ficar nem se quisesse!
Variável era somente a velocidade do passo

Na ausência habitava a certeza:
Minha falta de escolha
Sua escolha de ir
Não há estalido de chave no chão
Ou falta de buraco na fechadura
Sei que sempre a guarda no bolso
Não seria profissional em ir embora
Se não voltasse para partir tantas vezes mais

Já a mim resta esperar
Para evitar a solidão de simplesmente ficar
Não poderia ir junto se quisesse.
Mas... não poderia ir?
Não poderia ir junto nem se quisesse!

E no silêncio morou
Até fazer dele um lar.