Eu desafio.
Desafio sua manifestação.
Desconsidero sua força.
Desconheço sua presença.
Ela pensou, inocente. Mas seus pensamentos eram gritos que ecoavam no universo. Mal sabia que aos poucos suas palavras se transformavam nos monstros que a assombravam e atormentavam constantemente.
Era hora de dormir. De deixar a cama a abraçar para mais uma noite bem vinda de sono. Mas ela duvidava, desconfiava de existência de tudo que não era concreto e palpável. Desconfiava também do que era, mas por outros motivos. E naquela noite, antes de deitar, escovava os dentes e se perguntava o motivo de tanto apego das pessoas com forças sobrenaturais. Tantas crenças, santos e deuses.
Estava cansada. Cansada de tanto ser forçada a acreditar também. Porque era o caminho mais normal. Porque uma pessoa sem fé seria certamente condenada. Exausta de ser tratada como errada por ser diferente.
Olhando no espelho, ela desabou:
- Quer saber? Eu quero ver então. Quero ver alguma coisa aparecer, alguma coisa acontecer. Pois eu desafio o que quer que seja de dar as caras, é muito fácil viver dessa crença no invisível.
Foi quando algo mudou. Imperceptível no começo, inegável depois.
O jeito como seu reflexo a observava era nitidamente diferente. No começo a encarava, mas como seria diferente? Porém a sensação de ser observada, fez com que ela se calasse.
Os pelos no braço começaram a subir, e a pele a se arrepiar, quando enfim notou o sorriso. Os dentes começaram a se mostrar sem que ela fizesse aquilo. Rapidamente se transformaram em um sorriso de deboche, de desdém.
Ela recuou, mas a figura não. Não era ela. Não fez nada mais do que aquele sorriso e aquele olhar. E de alguma forma, nada mais precisava ser feito para transmitir aquela mensagem.
De repente tudo se apagou e ela acordou.
Coração palpitante, suor por todo o corpo e as mãos tremendo.
Nunca desafie o que você não conhece.