segunda-feira, 10 de maio de 2021

Saúde.

Saúde foi a última palavra que me disse. Na noite de sábado postei uma foto de taça de vinho. 10h da manhã de domingo você me respondeu. "Saúde".
Saúde foi o que você me disse porém talvez precisasse ouvir. 

Eu não consigo descrever a dor de perder alguém.
Mas tentando, diria que essa dor não é como a de uma ferida. Superficial, com milhões de possibilidades de curativos; que uma hora sara. Não é isso. É como estar dolorido. É algo de dentro que você não sabe muito bem de onde vem. É uma dor incômoda que não permite que você faça nenhuma das outras coisas, sem ficar incomodado.

Perder alguém de súbito é cruel e uma dor que já me é familiar, infelizmente.

Não consigo descrever como será estar em casa sem ouvir as músicas na janela ao lado, sempre muito bem selecionadas. Como será a falta de luz sem ouvir os acordes do violão à luz de velas. E falta tanta luz lá em casa! Não vamos ter mais os escambos de receitinhas deliciosas e um cheiro maravilhoso que invadia minha casa, provocando minha dieta.

Antes de nos conhecermos deixei um bilhetinho por baixo da porta, te alertando que havia uma aranha enorme em sua roupa no varal. Fiquei com medo de te picar ou causar alguma alergia. Me senti muito idiota por deixar esse papel, e quase não fiz. Para minha surpresa, você guardou. Junto da aranha num potinho de vidro. E me mostrou meses depois. Quem faz isso? Eu faço isso! Mas eu não imaginei encontrar alguém que pusesse tanto valor em uma lembrança assim, como eu gosto de fazer para demonstrar o quanto me importo.

Você deixou ontem a falta de um sorriso sempre simpático. Sempre gentil. 

Seu silêncio vai fazer muita falta. Humberto! 

Mas eu sei que no fundo todas as coisas têm uma razão. A gente só não conhece. Não entende. Então se foi desse jeito, eu confio que tenha sido por um bom motivo. Tenho certeza que a sua presença fez a diferença em muitas vidas. E a sua missão deve ter sido concluída com sucesso.

Obrigada!