Escrevi tanto para desabafar que esqueci de descrever o irreal. De fechar os olhos ouvindo aquela música eletrônica que vibra o coração junto. Sentir-se em outro lugar, onde as luzes piscam sem fim, coloridas, inconstantes. Esqueci de aparecer para dizer que o toque do seu corpo ficou gravado no ritmo da batida. Que foi bom te conhecer de uma forma não dramática, sem pressão. Que os dias se tornaram festa.
Esqueci de escrever o tempo todo. Da fila do pão ao tédio na aula. Nem que fosse para dizer que o dia está confuso hoje. Chove, faz sol, o calor impede de chover mais e tem nuvens tapando o sol. E o clima muda. O tempo todo.
Não lembrei nem que posso inventar um amor da minha cabeça para passar o tempo. Faltou a memória de que sou um ser mágico, inexistente, perdido. Que posso gastar páginas descrevendo o tom da minha parede de acordo com a iluminação espalhada em gradiente. Com listras. Sem listras.
Fiquei com preguiça de ter que pensar em finais brilhantes para textos. Daqueles impactantes e cheios de sentido quando, na verdade, minha cabeça está trance music. Descrevo apenas o impalpável. Não penso.
Gosto de ser transportada para esse mundo de balada e apenas mover meus dedos pelo teclado acompanhando a música vazia, animada. Gosto mais de saber que essas páginas estarão sempre aqui para me acolher.
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