quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Culpei a ele

Culpei a ele. Assim como culpei a mesa muito pequena ou a cadeira reclinável demais. Culpei as unhas grandes e as constantes reclamações de barulho registradas pela minha irmã aos gritos do quarto ao lado.
Culpei a falta de tempo e a sobra de tempo que me levava ao tédio.
Culpei autores por escreverem tão bem que me inibem. Mas também culpei autores que vendem livros vazios só pelo comércio que me enchiam de náuseas.

Culpo constantemente inúmeros fatores da minha vida por não estar escrevendo tanto quanto gostaria, quando o maior erro é simplesmente meu.

Em alguns momentos, escrever parece totalmente inútil se ninguém vai ler. Mas ao mesmo tempo é tão grandioso, como se fosse parte de algo maior. E é nesse ponto que eu me perco, porque parece que estou lendo um livro em vez de viver. 

Às vezes parece doer por sentir que não sou real. Como se fosse um personagem inventado por alguém que queria mais das pessoas. 

Tenho um mundo de contos e dramas guardados que mais parecem aprisionados dentro de mim e que transbordam quando menos espero como se fossem verdades, afogando, ainda que temporariamente, a culpa e me libertando da improdutividade.

2 comentários:

Sia King disse...

"escrever parece totalmente inútil se ninguém vai ler. Mas ao mesmo tempo é tão grandioso"
mecheu comigo no profundo.
Vivo me sentindo assim. kkk

Roberta Albano disse...

Não é?
Ai que saudade da geração do blog!

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