sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ignorância


E então você a viu. Acha que pode conhecê-la pelo olhar. Julga a distância de uma mesa de bar o suficiente para desmanchar barreiras e que os goles da bebida barata dispensam sensibilidade. Talvez os olhos maquiados e brilhantes sejam disfarces, desviando a atenção da boca encolhida pelos anos de falta de expressão. Os lábios retraíram-se, perderam a cor e tornaram-se túmulo.
E então você se põe a falar por ela. Decide em suas próprias palavras a resposta para cada questão. Facilita o processo de compartilhamento assumindo que sabe tudo sobre o assunto. Sem saber que nunca irá realmente conhecê-la.
E então você esquece de analisar o silêncio. Perceber os trejeitos fora de foco; detalhes da tentativa de fuga. Você ignora o pedido de ajuda. Não para enquanto ela não pede. Mas e se a tolerância for maior do que tudo? Será que nesse caso a dor deveria ser desconsiderada em vez de evitada só por que pode ser suportada?
E então você se perde no seu próprio mundo. Aquele que só admite uma opinião correta. Até que alguém fale o que você deveria ter descoberto sozinho.

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