Naquela noite eu era dela. Sem mas ou mais. Sem motivo ou necessidade. Apenas possuía o sentimento de ser tomado sem pertencer. Não havia laço, algema ou contrato estabelecido; nada que me fizesse ficar por obrigação.
Perdia-me admirando seu sorriso pois o resto era névoa. A mão que segurava a minha para guiar-me por entre a multidão também queimava-me os sentidos, anestesiava minhas possíveis reações - eu estava entregue.
O desejo poderia ter feito de mim refém, tal como escravo vendido acompanharia teus passos para minha perdição. Mas não. Ela absolveu-me de toda a culpa e solidão, mesmo sem estar ao meu lado. Seus lábios eram vermelho e futuro. No entanto, da distância em que estava, tudo que eu via era esperança.
Naquele momento eu a amei por me dar nada. Ela estava lá, enquanto eu perseguia minhas crenças. Ela estava lá e tornei-me melhor por mim mesmo. Não me consertou, a menina do sorriso infinito. Não me moldou em suas curvas ou aliviou meu cansaço. Apenas me deu vontade de sorrir também. Um par de lábios repuxados só meu. Meu para que eu desse a ela, mas meu.
E eu fui capaz de ressuscitar, trazer à superfície o que havia de bom em mim.
Não me beijou. Mas certificou com os dedos o contorno dos lábios. Engoli em seco porquanto era cuidadosamente analisado sem saber se seria aprovado.
Ela nunca mais soltou minha mão e eu fui para sempre feliz.
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