sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Paper girl

Os cabelos castanhos esvoaçantes. Os lábios desenhados em vermelho. Um sorriso de encantar multidões.

Além da força do seu olhar, que funciona como um imã através do bar lotado.

Eu deveria ter te conhecido anos antes, não fosse a vida ser como é. 

Quanto tempo passou para que eu descobrisse que a sua delicadeza parece com a minha. 

Que você é tão encantadora sóbria quanto quando o alcool te deixa doidinha. 

E eu apenas observo e penso o quanto você parece uma musa da qual as pessoas escrevem livros.

Você tem aquele jeito meigo que mal conheço e já conheço tanto; aquele jeito que transborda poesia.

Aquele jeito que quero continuar conhecendo.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Sobrecarga

 Ele tinha razão.

O que eu sentia era sobrecarga. Um peso nos ombros de tanto tempo sustentando acontecimentos dolorosos.

As lágrimas que não caíram começaram a transbordar pelos polos. A respiração estava pesada. 

Eu precisava chorar.

É muita falta. Muita perda. A vida não é fácil o tempo todo.

E como me sinto melhor hoje!

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Boa noite

Estou com sono.

Esse maldito me seduziu no meio da noite.

Tá bom. Ainda não era nem meia noite. Mas estava deitada, pijama recém lavado. Dentes escovados, fio dental e enxaguante bucal. Hidratante de lavanda e camomila. Barriguinha quente e preenchida de uma refeição gostosa. Aconchegada nos cobertores com ventilador já posicionado.

Ele vem e me beija. 

Eu tento argumentar. 

Ele coloca caramilholas na minha cabeça para eu lembrar como é bom.

Dormir relaxados.

Eu tentei fechar os olhos e dormir. Mas o conforto se transforma em desconforto. As partes pulsantes do corpo te desejando. Os pensamentos impuros.

Dane-se a lavanda e a camomila.


Velhice, família e tudo mais

 Parece que a felicidade me alcançou. A paz no espírito, a constância acompanharam ela. E não me entenda errado, porque não é uma reclamação. Parece que agora eu sou adulta. Que o que me fazia escrever, o que me trazia os sentimentos mais artísticos e intensos era uma insatisfação da juventude. Nada mais me atormenta. Vivo uma vida de sonhos, casa aconchegante, amizades verdadeiras, amor real. Mas eu não posso me esquecer da minha alma de poeta e eu não posso esquecer de produzir algo. De procurar algo. Eu não posso só existir e ser feliz.

É só que às vezes parece que não existe mais a galera do blog e ninguém se importa.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

F.A.J.

 Meu pai sempre me pareceu uma pessoa sábia, como já disse muitas vezes. Eu só não sabia ainda que a sabedoria é constuída pelas lições que a vida nos dá.

O ruim é que a gente aprende muito mais com a dor do que com o amor, o que me faz pensar em quantas vezes ele sofreu.

Quando conhecemos alguém, podemos ter a imediata certeza de que terá um fim. Apesar de não sabermos o tempo preciso que irá durar, todas as coisas estão destinadas a acabar. E mesmo assim aceitamos conhecer e nos permitimos a aproximação. 

A gente costuma nem pensar no fim, mas depois dele precisamos avaliar se valeu a pena, certo?

Porque a dor que temos é sempre proporcional ao sentimento que tínhamos pelas pessoas que se vão. Essa dor é o preço que pagamos pelas marcas que elas deixaram em nós.

Eu sempre acho que o preço vale pois sou muito grata pelas experiências que vivo e hoje tenho a certeza de que todas as coisas são temporárias.

Os acontecimentos ruins podem nos construir ou destruir e eu não sei dizer se são caminhos que nós escolhemos ou simplesmente acontece. Mas eu sinto que tenho me construído de uma boa forma, mesmo ciente de que não vou me sentir bem todos os dias.



Ana Paula

Fernando

Humberto

Bira

Fernando

Ney


Obrigada


terça-feira, 30 de maio de 2023

Albano

Por que você era tão fechado?

Eu pergunto como se você pudesse responder.

Como se eu pudesse voltar no tempo e usar a maturidade que eu não possuía.


Eu lembro de você como uma pessoa sábia.

Uma pessoa que sempre que sabia o que dizer. Ou até mesmo o que não dizer com longas pausas dramáticas observando o horizonte.

 

E você parecia ser tão sociável com as pessoas próximas. 

Então por qual motivo você nunca queria sair de casa?

Será que você era como eu?

Porque existiu algum momento em que eu fui extrovertida e animada.

Fui me podando pouco a pouco com medo do que as pessoas pensam.

O que é inclusive inútil. 

Se eu sempre acho que as pessoas não gostam de mim, qual seria a diferença?


Ser aceito é um assunto que sempre me trás lágrimas.

Algumas pessoas não entendem o motivo de eu sempre me esconder.

Prezar pelo meu espaço. Meu quarto.

Mas a porta nunca esteve fechada. Eu nunca impedi ninguém de entrar

Eu só queria receber as pessoas em um espaço em que eu estivesse confortável comigo mesma.


Na verdade, eu só queria saber se você era como eu.

Seria bom saber que eu sou como você e então talvez as pessoas pensariam de mim o que falam de você.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Medo.

 Pode parecer pouco para tanta gente. Pouco peso. Poucas repetições. Pouco esforço.

Mas essa tanta gente não faz ideia do quanto eu sinto medo de me machucar novamente. Conviver com hérnia é nunca saber onde está a linha, tenue, entre de exercitar para fortalecer a musculatura ou dar mal jeito e inflamar o ciático. Um pouco demais e eu poderia ficar como antes; sem andar.

Exercícios causam dor e qualquer dor me parece que passei do limite. Qualquer puxão na coluna e os olhos enchem de lágrima pensando na pior fase da minha vida.

Eu estou tentando, eu juro. Eu estou fazendo tudo certinho. Fisioterapia, pilates, academia, bicicleta. Tudo com o maior prazer pelo simples fato de estar sendo capaz de fazer.
Só preciso de um pouco de paciência, porque forçar as coisas é assustador.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Autoimagem

 Imagina que a maior parte da minha vida fui muito muito magra. Não apenas magra. Abaixo do peso. Sem volume nem nos locais desejáveis. E que de repente (provavelmente não foi de repente, mas não enxerguei essa mudança) hoje sou uma pessoa acima do peso.

No início, foi bacana. Não era mais uma tábua, tinha um corpinho legal. Mas o peso foi aumentando de forma que em algum momento eu fui classificada com obesidade em um avaliação de academia. 

Toda essa mudança é muito confusa na minha cabeça por vários motivos.

Não sei em que ponto passou do ponto.

Não consigo enxergar. Quando estou fora do espelho, só vejo os bracinhos finos. O peito tapa a barriga e pronto. Aí eu começo a achar que deve ser um exagero.

E aí eu me olho em fotos. Me olho no espelho. Me sinto simplesmente gigantesca. Já não encontro roupas. Até porque nem tenho coragem de experimentá-las.

Mas também não me aceitam como gorda. E o que deveria me consolar só me faz sentir mais perdida e abandonada. Sozinha e isolada.

Eu definitivamente não entendo meu corpo ainda.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Notas mentais

 Eu costumava acreditar que consertar as coisas era minha responsabilidade, por conta de um senso de justiça inabalável. Que tudo tinha que ser resolvido. Que todos os desentendimentos só acabam quando está tudo certo e todos estão felizes. Mas não. Na verdade, eu só tenho responsabilidade pelas minhas próprias ações. E é claro que devo gastar um bom tempo analisando minhas próprias ações para tentar melhorar. Assim como tenho que estar disposta a ouvir aqueles que se sentirem afetados pelas minhas ações pelo mesmo objetivo. Contudo, não tenho que interferir no pensamento alheio. Não tenho que resolver coisas em que as partes envovidas não estão interessadas em resolução.

Assim sendo, minha consciência tranquila deve me bastar. A opnião e o sentimento alheio não podem me afetar tanto assim. E eu não posso deixar de estar feliz baseada no sentimento alheio. Minha gentileza não serve para nada e não tem que servir. Tem que existir apenas na ação, não contando com nenhuma reação.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

C.

 Eu sempre preferi mostrar quem eu sou por ações, e não por palavras. E todas as ações que tive em relação a você foram para tentar ajudar, dentro do que está ao meu alcance. Você sempre soube até onde ia meu alcance. 

Eu não deveria ter que listar tudo que eu fiz para que você enxergasse que sempre estive do seu lado. E a sensação de que se eu fizesse isso só tornaria as coisas piores me tira a esperança.

Não posso controlar o que você pensa e é por isso que dessa vez eu vou fazer diferente de tudo que sempre fiz, que é tentar invocar a justiça e a razão para consertar as coisas. Eu não tenho que conservar as coisas. Vou aceitar que só posso lidar com que eu sinto e se, mesmo me conhecendo, você está pensando errado de mim, não há nada que eu possa fazer além de continuar sendo a mesma pessoa de sempre.

É doloroso conviver assim. Não tenho muita estrutura para estar cercada de energias ruins. Mas posso cuidar de mim e sobreviver, com pleno conhecimento que a vida é feita de fases.