quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ensaio de partir

- Por que você teve que ir? - Ela perguntou.
Ao final da frase a resposta já estava declarada, automaticamente. Porque pessoas vão embora. De vez em quando, partem antes de fazer falta. Em outros casos, permanecem por tanto tempo que parece nunca irão. No entanto, eventualmente, partir é algo que vai acontecer. A não ser, é claro, que quem vá seja você mesmo.
Algumas vão embora por elas mesmas; insatisfação. Outras deixamos ir; desvalorização. Se nenhum dos dois motivos as afastar, a morte vem para fazer cumprido o destino: nada dura para sempre. O fim é parte humanidade; manutenção da vida.
E como fazem isso bem, não é? Partir. Porque, no final, não é só o ir embora que conta; é partir o coração em pedaços mesmo. Talvez o verbo nem tivesse esse significado de abandonar se não fosse associado ao coração quebrado que quem vai deixa para trás.
Mas é natural, claro, nos faz permanecer em movimento, o relógio sempre marcando suas badaladas. Nunca vai parar de acontecer, entretanto. Assim como nunca será anestesiada a dor.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

CAMINHOS OPOSTOS

Era noite quando constatei que a temperatura quente poderia ser considerada refresco para o forte sol do dia. Não parando por aí, reparei na iluminação; amarela como eu gostava. Ao longe, conseguia ver as luzes dos prédios que ladeavam a lagoa. A vista era favorável, mas não o mais importante. Registro essa parte para que quando feche os olhos você possa imaginar, quem sabe acreditar, que pode ser real.
Eu o encontrei. Espiei-o de longe por alguns momentos. Ele e o cabelo espantado contornando feições sonolentas. Uma vez ele me disse o quanto é interessante se manter um pouco longe da pessoa que você gosta, pois é a única chance de vê-la por inteiro. De fato, é. Por alguns minutos, você se perde analisando todos os detalhes.
Quando me aproximei, vi um sorriso. Foi tudo que eu precisei como recompensa do dia cansativo inteiro. Sem intenção de soar melosa, esse é um texto sentimental. Espero que, caso venha a encará-lo dessa forma, leve de troco a sensação que tive ao vê-lo ali sentado como se fosse sua.
Conversamos por um tempo. Queria que parecessem palavras intermináveis para que eu ficasse presa naquele momento, mas não. Desejava mais e mais.
A parte engraçada sobre a noite é que os caminhos eram opostos quando nos despedimos. Atravessei a rua, o vi partir. Mas, de alguma forma, sempre voltamos a nos encontrar. Ir embora significava apenas sentir saudades e esperar pela próxima vez.

sábado, 19 de outubro de 2013

Sem ter final

Poderia ser um beijo de chuva
Ou uma mão entrelaçando os cabelos
Poderia trazer chocolate ou flor
Quem sabe, talvez dedicar uma música
Mas eu não acho que isso seja tudo
E não acho que eu vá estar longe o suficiente
Para ver a história inteira
Não quero estar, não quero ver acabar
Para saber se o resultado foi positivo.
Os personagens, você sabe, de contos de fadas
Eles são feitos de dedicação
Vivendo apenas para esperar o fim
Somente os outros poderão dizer que viveram em paz,
Quando a última página for virada
Trazendo com ela o final do livro.
Mas e se eu quiser um durante?
O gostar deixou de ser uma ação bonita,
Uma foto do álbum.
Tem seu impacto, gera sua consequência
Beija sua recém-declarada esposa nos lábios
O gostar não é aquilo que se torna
Mas algo que, se você reparar,
Já estava ali te acompanhando
Independente do momento em que a aliança foi colocada
Desconexo do status ou da obrigatoriedade
- Gostar não necessita de reciprocidade
E é por isso que você não representa
A vontade de ter um final feliz
Ainda que seja príncipe
O que você representa
É a vontade de ser feliz
Sem ter final

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Bolha de sabão

Houve um tempo em que seu abraço não era opção - se lembra? Não existia o "ser fofo" já que não havia demonstração. Era apenas o convívio naquela época. As conversas intermináveis e a vontade de te ter sempre perto.
E você, sempre tão preso, mantinha a distância, se escondendo no quarto que fazia questão de trancar, ao sair e ao entrar. Nunca entendi muito bem o que me fazia sentir tão completa ao seu lado: costumes tão diferentes; preferências tão parecidas. Inevitavelmente, eu sentia uma vontade de cuidar de você tão grande que nunca coube apenas dentro de mim. Percebi que era amor puro, sem as químicas imundas incorporadas na droga para aumentar o lucro - eu sentia a onda sem adoecer.
E lá estava você, atrás da muralha que eu fiz questão de tentar escalar e começar a quebrar pedras, tentando fazer a diferença. Eu, tão fraca, quis continuar tentando.
Com as mãos cheias de calo, presenciei sorrisos e consegui fixar uma corrente que permitiu não perder território, não perder a vista das barreiras sendo vencidas desde então.
E aí você me deu um chocolate, numa pascoa. E foi a primeira vez que eu soube que você se importava, nem que fosse um pouco. Teria sido mais fácil comê-la, sabe? Mas ver você desprender um bem de si para entregar a alguém me faz feliz até hoje, aquela felicidade que te faz chorar de tão profunda.
Não existe ninguém que eu confie tanto quanto você. Ninguém a quem eu me sinta tão conectada quanto você. Queria que tivesse certeza de que você não é parte da minha vida, porque partes podem ser separadas. Correto seria dizer que você foi integrado a ela e o que existe de mim hoje não seria o mesmo sem você.
 Havia uma bolha naquela época, te impedindo de vivenciar o mundo em volta. Mas, olhando bem de perto, pude ver as cores brilhando em sua superfície e soube então que não seria difícil cruzá-la.

domingo, 11 de agosto de 2013

Você nunca espera que aconteça com você

Queria agradecer, mas não sei bem a quem. Mas o agradecimento eu chego a ter uma certeza mais que absoluta, se isso não superasse o limite do possível. Eu queria agradecer por ter tido o melhor pai de todos. Mesmo não estando mais presente fisicamente, o que ele me ensinou antes continua valendo. Você, F.A.J., me fez humana, me fez real. Cheia de defeitos, mas que tem o que é importante ter de bom. Eu queria que você estivesse aqui para receber o meu "Feliz dia dos pais". Mas, bem, eu te disse um dia. E nada mudou o que eu sentia.
Então fica aqui o meu muito obrigado a quem quer que tenha providenciado minha árvore genealógica. :)

domingo, 4 de agosto de 2013

Infinito

Eu te quero hoje. Mas talvez não amanhã. E como seria estar com você por um tempo que não fosse eterno?
Assim como a constituição de uma personalidade, a vida em si tem muitas características. Uma delas, a incrível temporalidade das coisas, move prioridades e pessoas na linha de tempo constantemente. E como almejar apenas um alvo enquanto desejamos tantas coisas paralela e plenamente? Organizando sonhos em categorias: a única forma de não lidar com a difícil escolha entre eles.
Estamos acostumados a separar a vida amorosa da carreira, dos estudos, do individual e mais quantas segmentações conseguirmos criar para não nos sentirmos traidores dos objetivos que já temos. E dentro dessas definições escolhemos o emprego dos sonhos, o parceiro ideal, o curso que queremos seguir, o desenvolvimento dos hobbies e melhoria das aptidões pessoais, para exemplificar.
Mas e se tivéssemos que confrontá-las? Estabelecer para nós mesmos apenas um objetivo de vida? Quantos estariam dispostos a abrir mão do trabalho perfeito por um amor recém adquirido? A desistir da faculdade para criar uma criança ou deixar o coração de lado para construir uma carreira de sucesso? É quase impossível localizar alguém que nunca tenha tido que fazer escolhas para estar onde está. Mas decidir não é o problema (apesar de ser a parte mais cruel) porque, aparentemente, uma vez eleita, a prioridade é capaz de compensar todas as coisas que você deixou de lado em nome dela. Pelo menos por um tempo.
E se eu quiser não definir uma prioridade? Ou, ao menos, tomar a liberdade para sê-la. Estaria livre para perseguir todos os sonhos ainda que talvez não tivesse nenhum profundo o suficiente para trazer o sentimento de completude da alma. Seria esta a única forma de não permitir a estabilidade tediosa pronta a me acompanhar até o fim dos meus dias, a única maneira de me manter realmente viva. Como se "estar em movimento constante" fosse realmente viver.
A sensação que tenho é como se o conhecimento sobre a vida, o universo e tudo mais fosse transformado em sinapses e então existe um imensurável engarrafamento em minha cabeça quando tento imaginar a grande distância entre ter o espírito livre para pensar ou algo palpável para chamar de meu. Como proveito da dúvida, posso apresentar as muitas perspectivas da história.
Não escolho a liberdade porque quero de fato perseguir mais de um sonho ao mesmo tempo. Antes disso, não saberia do que abrir mão. Ainda, posto que não sei qual seria a prioridade de minha existência, opto por não cultivar nada, tratando tudo como possibilidade.
É necessária muita coragem para chegar lá. Mas aposto que vale mais a pena tomar uma decisão, mesmo perdendo algo, do que ser responsável pela sua própria perda em um universo infinito de hipóteses e falta de posses.

domingo, 21 de julho de 2013

"Se você perguntar, eu negarei
Se oferecer, recusarei
A proteção fala por mim
Imita minha voz"

Eram as palavras que encontrei escritas no papel, na minha bolsa, com a minha letra. Eu nem ao menos lembrava de tê-las declarado ali, em algum momento em que fizesse sentido. Parece que eu pedia socorro. Mas, se está no passado, posso ver que hoje estou bem. Exatamente hoje redescobri em mim quem eu sempre fui. Senti a paixão pela vida e a alegria de ouvir músicas boas. Acho que andava tão cansada, tão preocupada com o que devia ou não fazer que deixei a vida de lado enquanto não me decidia. Mas só por hoje, nesse momento, eu vou dançar. Vou aumentar a música. Deitar se tiver vontade, sem me preocupar se vou perder o dia. Vou pensar no quanto foi bom ontem ter ido ao lugar em que cresci. Pude estar lá para abraçar minha mãe quando as lembranças foram fortes demais e trouxeram algumas lágrimas partilhadas. Desenhei, conversei. Vi lugares bonitos e as cores da decoração de festa junina que eu tanto adoro. Dormi bem. Não preciso evitar ir onde me sinto em casa porque dói ter saudades do meu pai. Ele não deixou de existir no meu coração, nas minhas memórias, nos meus conceitos e princípios que um dia foram dele e eu aprendi, agora reproduzo. E falando de gostar, eu sinto algo por uma pessoa especial. Mas a verdade é que namorar não é o melhor de mim, eu viro só preocupação, esqueço de mim, brigo com quem não merece. E, por muito tempo, eu tenho pensando que eu só tinha duas opções. Ou namorava, e mesmo que me ficasse feliz por isso, não era o que eu queria. Ou passava a não gostar. Nesse conflito, me perdi. Mas hoje decidi que não preciso deixar de sentir o que desenvolvi por essa pessoa que merece esses sentimentos bons e me cativou completamente. Assim como não preciso fazer algo que não gosto. Posso simplesmente guardá-los aqui e transformá-los em sorriso e carinho. E isso me basta.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Incontrolável

Sabe aqueles sentimentos que partem de impulso? Aqueles que podem ser comparados a elementos químicos que agitam as partículas no sangue causando um calor extremo ou uma irritação alérgica.
Então. Esses são difíceis de conter. De manter na encolha para ser capaz de fingir que tudo está perfeito como de costume. A alternativa mais fácil se torna o isolamento: já que a sua imagem projetada na minha frente me causaria muita raiva deixo de te ver. E, se deixo, é porque você está certo. Você está bem e feliz. Se estivesse errado, optaria por ficar e esmurrar sua face sem carinho ou brincadeira. Mas, uma vez que o acontecido não é errado, esmurro minha própria cara contra o travesseiro para abafar os gritos que queria dar no seu ouvido, porque, mais uma vez, você está bem. E isso não é tudo que eu queria? Ah, essa dificuldade de ter uma vontade só. Ou de, pelo menos, decidir entre elas qual seria a melhor. Nessa inconformidade de sentimentos, opto por manter apenas o que posso controlar: a distância.

domingo, 7 de julho de 2013

one two times

Duas vezes frustrantes. Duas vezes em que a felicidade não foi completamente atingida. A frustração é notável. E a ânsia pelo sorriso e o abraço de uma das vezes foi repetida na segunda. Onde você estava? Em uma das vezes até vi algo que deveria ser você, mas não era. Onde você estava que não correspondeu meu olhar enquanto parecia atravessar minha cabeça com o seu? E onde você está agora? Que não estava ali, compartilhando as risadas causadas pelo filme e pela alegria na sua presença?
Eu cheguei a comprar seu ingresso. Mas do meu lado ficou sobrando um lugar.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Conflito

Os dois lados da história me assustaram hoje. Quando ouvi que você estaria no local que me chamaram para ir, imediatamente a resposta foi um sim. Me surpreendi com um enorme frio na barriga e foi estranho. Mas antes que o meu próprio comportamento pudesse ser classificado como impróprio e responsável por me colocar em detenção, eu te vi. E a forma que você me olhou, um brilho frio. Não desprezo, mas indiferença... talvez você não saiba o quanto conseguiu machucar com tão pouco. Como se a pessoa cheia de vida e carinhosa não estivesse ali. Tudo bem que às vezes as pessoas precisam relaxar, não se importar com mais nada, ainda mais com algo que não significa nada, mas foi assustador da mesma forma. Não que isso seja uma reclamação, antes que alguém fique revoltado enquanto lê. Até porque, se era a ideia agir friamente, não tiro direitos. Talvez o problema seja a falta de previsão. Eu não esperava secura em rios antes tão fartos, entende? 
Durante a pertubação de não compreender o que estava acontecendo, percebi o quanto tenho dificuldade de expor sentimentos tristes. E foi aí que percebi o quanto me fechei. Eu vi meus amigos por perto, mas fui calculista ao ponto de engolir a tristeza ao ver que eles estavam se divertindo, e não quis intervir com algo ruim. Pensei em falar com a pessoa em questão. Primeiro para dizer como eu estava me sentindo, mas pareceu pouco importante. Depois para perguntar se estava tudo bem, mas me pareceu chato, sabe? Ela também estava se divertindo. 
E mais uma vez me peguei fazendo o de costume e me afastei para as pessoas continuarem a vida feliz, porque é o que realmente importa. Sem surpresas aqui.

sábado, 22 de junho de 2013

I used to be my own protection

Ouvindo essa música agora, parece que tudo passa a fazer sentido. A progressão dos acordes acompanha o coração que bate mais forte descobrindo sentimentos não explorados. Ver o seu rosto, detalhando seu sorriso... A visão que lembro em câmera lenta acompanhando o ritmo da melodia que nem sequer combina com o estilo da banda. Só me faz pensar no quanto não era pra ser, mas se tornou (em todas as coisas que passam por isso). E se tornou o tipo de coisa que me faz correr de medo e me afastar, construindo muralhas com cobertores.

Se eu estiver longe, é porque descobri que posso estar gostando. Se estiver perto, é porque estou matando saudades antes de esconder o sangue pulsando que cora as maçãs do rosto. De um jeito ou de outro, estarei sempre vivendo presa nos meus próprios pensamentos.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Fora do disco: Eles

Se ao menos ele soubesse que tão perto dele havia alguém que o enxergou. Mas então ele diria que ela não o conhecia, desmerecendo seu olhar. Ela contrairia uma raiva repentina e contrariaria ele. Até que partindo do debate, e somente assim, as coisas pudessem se ajeitar. E olha que muita gente evita o confronto, sem saber que apenas com ele as coisas ficam claras o suficiente para serem resolvidas; é o fim da mentira fingida.
Se ela soubesse que ele queria estar ao seu lado uma quantidade imprevisível de tempo que poderia se tornar um infinito, ela diria que infinito não existe. Que só dá para saber que durou todo o tempo quando o tempo acaba e então não restariam palavras para escorregar por meio dos lábios mortos quando a hora chegasse.
E essa tornou-se uma história sobre comunicação e a falta dela. Existem muitos erros e acertos, em todas as áreas possíveis. Mas irremediável mesmo é achar que adivinhação existe.

Lado B: Ele

Eu nunca vi um sorriso tão lindo - ele pensou.
"E os olhos refletem o céu. Já passei na frente dela três vezes e tudo que ela faz é abaixar a cabeça; não me encara quando a olho. Rabisca algo que nem sei o que é mas parece interessante por ser. Não ousaria incomodá-la. Inexplicavelmente, sinto que ela poderia ser tudo para mim e logo em seguida temo que muito seria demais, e eu seria pouco. Não nego que me esforçaria, mas como poderia lidar com um brilho de desprezo naqueles olhos?"
Ele procurou uma posição no ônibus que permitisse continuar a ficá-la pelo vidro embaçado, contando os segundos para que a miragem desaparecesse. Sabia que por motivos culturais era esperado dele alguma iniciativa. No entanto, ela parecia tão desinteressada.
"E como poderia estar diferente disso? Ela, quase um anjo, notavelmente especial e sem comparação com qualquer um que passava. Se ao menos ela soubesse que eu só tenho olhos para ela... Se bem que nesse caso eu seria apenas mais um; mais uma figura desbotada no quadro dela."
Como alguém que não tinha valor, ele seguia os dias olhando para o mundo, de fora. Nunca chegou a participar. Se sentia frágil diante de todas as hipóteses ruins e pouco para tudo que pudesse lhe acontecer de bom, não digno de merecimento. Como caracterizar como vida algo que nunca existiu? Algumas pessoas acham que não têm que mudar. Mas sem melhoria estamos só andando em círculos; talvez em espiral para baixo, nos afundando no poço.

Lado A: Ela

Então ela o viu. E, imediatamente, o que havia antes perdeu a importância. Como se a figura masculina parada diante dela fosse destacada do restante do ambiente, ressaltando seus contornos e roubando toda a cor do cenário até deixá-lo em tons de cinza. "Perfeito demais para estar tão perto". Mas, já que perfeição pertence apenas ao desconhecido, a descrição tornou-se simplesmente não literal. Pensou em falar com ele, mas não saberia o que dizer. Ou, talvez, não quisesse estragar a beleza da cena congelada.
Milhares de hipóteses percorreram sua mente numa sobreposição que parecia infinita - contando a distância em tempo que faltava para ver o fim. Não queria imaginar que ele podia não ser tão legal quanto parecia. E, na tentativa de não denegrir o status, optou por unicamente observar enquanto ele seguia seu curso, entrando no ônibus de viagem.
Ele sentou na janela e ela no ponto de frente para ele. Tão perto em distância porém tão longe por falta de movimento. Pensou em como seria mandar um bilhete com seu número de forma anônima. Redigiu conversas misteriosas e provocantes mentalmente.
O motorista virou a chave na ignição e o barulho do motor despertou-a do transe. Não escreveu. E o ônibus se foi.
O medo de estragar as coisas a impediu de seguir em frente mas, no final, não possuia algo para proteger ou preservar. O que queria deixar de perder se já não tinha nada? E essa é uma história sobre antecipação: o medo de perder aquilo que conquistou antes mesmo de tê-lo feito.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Enquanto ela estiver feliz

Eu nunca fui o tipo de pessoa que reclama a atenção de um amigo que se afasta um pouco por começar um relacionamento. A bem da verdade, não entendo do que as pessoas reclamam. Fico simplesmente satisfeita em saber que aquela pessoa que eu tanto gosto está bem, mesmo que longe. Enquanto ela estiver feliz, eu não tenho com o que me preocupar. E quando deixar de estar, vou estar no mesmo lugar. Pessoas importantes na minha vida podem ficar em qualquer tanto de distância de mim. A amizade, como uma reta, ainda seria capaz de nos manter ligadas. Então sei que não tenho nada com o que me preocupar.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Comodismo

É a vontade de permanecer na inércia que se sobressai. Nenhum príncipe de cavalo branco iria resgatar Rapunzel se as tranças não permitissem a subida dele. Simplesmente não há força para sair da cama. Se houvesse, ela mesma desceria as escadas e correria atrás de quem sempre procurou. Mas continuou estática pensando nas consequências de cada movimento. Cada passo, tantas hipóteses. Não conseguia calcular tudo. Enquanto não calculava, não me movia. Enquanto não se movia, começava a se esquecer como andar. E, então, não lembrava o propósito dos pensamentos - fechava os olhos, tornando-se uma bela adormecida. Não dormia no pátio do castelo, havendo a possibilidade de alguém encontrá-la por acaso. Mas sim continuava em sua torre trancada por dentro, esquecidamente desmaiada. Antes, não sabia como sair e agora desistiu de tentar. Abraçou as sombras em seu quarto e desligou o raciocínio que havia trazido tanta dor de cabeça.

domingo, 26 de maio de 2013

Poço de raiva

Eu sinto muito
Por todas as vezes em que fugi
Me isolei do mundo
E te mantive fora da bolha
Que eu usava pra me proteger
Esqueci de estendê-la a você.

Eu devia ter estado lá
Segurado sua mão
Mas tornei-me cega de dor
Não tenho nenhuma dúvida:
Eu mudaria se pudesse voltar
Talvez, então, as coisas teriam sido diferentes

Só que eu não posso.
Eu não estive lá
Senti a mesma dor que você
E, enquanto eu fui embora,
Sua reação foi tornar-se
Um poço de raiva
Explosivo e venenoso
Como se você fosse outra pessoa
Na tentativa de se proteger

Você merecia mais de mim
Na verdade, você merecia tudo
Tudo de bom que houvesse em mim
Você era tão nova
Foi esperado tanto de você
Que dói
Só de pensar no tamanho da responsabilidade

Ainda bem que você é diferente de mim
Algo especial
Tão forte para lutar
Porque, apesar de tudo,
Este poço também possui a maior bondade
Que meus olhos já conseguiram enxergar

Eu imagino o tamanho do esforço
Para conter a raiva aí dentro
Quando a vontade é deixar ela sair inteira
Para deixar de habitar seu peito
Mas você não iria querer destruir tanta coisa
Só para se sentir melhor
E é por isso que você aprendeu a conviver
Com o ódio que há em você

Você é meu anjo
A coisa que mais amo nesse mundo
E eu estou aqui agora
Eu não vou mais para lugar algum
Porque eu quero ser sempre
A pessoa com quem você pode contar
A pessoa que vai te levantar, se chegar a cair
Porque você simplesmente não merece
Absolutamente nada de ruim
E eu te amo.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Insetos e Lamparinas


É comum do ser a atração pela luz. Aquele brilho que fascina puxando a saturação para si só enquanto suaviza e desbota o restante da cena. Só que o calor da fogueira que aconchega é exatamente o mesmo da brasa que queima. Não adianta pedir para não colocar o dedo na tomada, a criança será compelida machucar-se tentando se aproximar do curioso objeto de afeição. Toda luz não apenas acende, mas hipnotiza; te seduz fazendo-se de sua beleza.
Talvez a religião funcione porque a criatura não chega até o criador para se deparar com o vazio. Caso contrário, seria como o amor que se vai junto com o platonismo quando o admirador alcança sua musa dourada em um pedestal perfeitamente polido.
A dor é um sentimento imensurável. Por mais que você saiba como, não saberá quanto e, por mais que você saiba quando, o conhecimento nunca irá amenizá-la. Dessa forma, eu entendo como os insetos morrem queimados na eletricidade idolatrada. Eles tentam perseguir um sonho que nem ao menos conseguem evitar ter, tamanho é o brilho da luz. Talvez eles saibam da morte e escolham, mesmo assim, chegar mais perto e sentir o calor. Valeria mais a vida longa no escuro de uma noite fria? Ou, que seja rápida sua passagem pelo mundo, mas que possam explodir de paixão indescritível, encontrando o que sempre quiseram?
As feridas são inevitáveis. Mas a falta de sentido é imperdoável. Não arriscar seu sangue naquilo que você espera de sua vida é o mesmo que nascer e morrer em vão; aprender o básico e, conformado com isso, sentar-se no asilo, esperando que a aparição em vestes negras te leve para o desconhecido. Só você pode escolher entre ter a pele talhada ou evitar as marcas que te lembram de quem você é. Mas eu tenho certeza que antes de cair desgovernadamente no chão, as asas daqueles que perseguiram a luz brilharam ao tocá-la. 

sábado, 4 de maio de 2013

Primeiro de abril

Parecia mentira
Os beijos dela no sorriso dele
Respirar a paz tão procurada
Parecia até loucura
Pensar na realidade
Até que a felicidade era tudo que eles pensavam.

Naqueles momentos houve perfeição
Independente do que aconteça
Nunca mais a melhor visão será alterada
A história tornou-se palpável
E eles puderam possuí-la sem se possuir.

Eu não mudaria nada, além de mim mesma
Mas ainda há tanto para entender do que sinto
Que tenho a impressão que até a mudança
Pode já existir dentro de mim
E ainda não achei
Eu ainda não sei
Mas é normal não saber o que o futuro tratá
Tudo que posso fazer é o que julgo ser certo
E a certeza agora é que
Eu não mudaria nada, além de mim mesma

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Se eu te falasse o que sinto

Talvez a história tenha sido o bastante para que você entendesse do que sou feita. Mas se eu te falasse o que sinto, você estaria aqui, no mesmo lugar, petrificado demais para fugir de mim. Seria de minha responsabilidade não te despir de suas defesas, mas quando, aos olhos, o encanto aparece, as defesas desabam e as roupas escorrem pelo corpo. Provavelmente o mais correto seria não sorrir se dele sai como fruto somente a fome. Agora me perco entre o que acho certo e o que sinto. Mas pensar no que sinto seria egoísmo. Te falar o que sinto seria evitar que você esquecesse e esquecer é sempre a única solução.
Não só pra isso, mas queria ser diferente. Provavelmente ninguém de fora sabe realmente o quanto alguém pode querer mudar. Mas minhas palavras não precisam fazer sentido se não houver interesse. Mas a verdade é que eu queria que fizessem, para todo mundo. Queria falar de sentimento como se isso não gerasse compromisso e obrigação. Como se você entendesse que meu medo de apego sempre foi o contrário da preocupação comigo. Mas, na verdade, existe um sentimento de pânico em não conseguir suprir todas as expectativas. Não sei se posso conseguir um sorriso seu todos os dias e por isso prefiro não o ter dia algum. Como se o melhor que eu pudesse fazer por alguém fosse minha obrigação. Assim sendo, cuidar não é qualidade, é o trabalho padrão. E, se o que devia ser algo positivo é neutro, o ruim é pior, fico cansada de nunca ser boa o bastante uma vez que o "ser boa" já é o esperado, não surpreende ou supera as expectativas.
A vontade aqui é de correr, pular nos teus ombros, chamar do apelido preferido e dizer o quanto esperei para te ver. Dizer bobeira pra te fazer rir toda vez que você estivesse cansado, triste, estressado, pra baixo e etc. Como se qualquer coisa valesse para te animar. É difícil esquecer do que sinto ao teu lado. Mas, se eu te falasse o que sinto, as palavras poderiam te fazer sofrer. E como proceder, se parece que a falta delas também poderia te machucar? Assim fica muito difícil! Então vamos ficar com a sinceridade. A verdade é que tudo que é, é de verdade. Tudo que se foi não mudou de significado com a distância. E sabe o que ainda vejo? "Meus sorrisos que ultimamente são tão seus".

domingo, 28 de abril de 2013

Como você pode? - ele perguntou.
Como você pode despejar palavras em sequencias de ações que nunca existiram? Criar tanta mágica e virar para o lado na cama almejando apenas um sono tranquilo como se não fosse nada de mais. Toda essa vida pulsando nas veias e você mistura com álcool um sangue tão puro; tão doce. Como se fosse jovem e a juventude não fosse algo que pouco a pouco vai deixando de habitar seu peito.
Tomou outro gole, e percebeu que nem devia ter começado. Mais um e percebeu o quanto estava perdendo  fora de sua tontura particular. Podia declarar o quanto, de forma alguma, podia fazer parte do grupo. De nenhuma maneira estava destinada a ser normal para a maioria. Como se fosse importante participar.
Tentou focar a vista em pontos específicos e esperar tudo passar, mas a mente começava a se perder, como se fosse embora de férias e deixasse o corpo largado à descoordenação.
O tempo passa e os problemas se resolvem quase que sozinhos, automaticamente. Esperar conserta quase tudo.
Ela sempre escreveu enquanto esperava o tempo fazer efeito. Sobre ela; sobre eles; sobre ninguém. As palavras eram formas de expor invenções ou readaptações. Ser real é o que menos importava. Nunca se esqueça que o importante é a mensagem passada e o quanto ela pode significar para ela ou para alguém.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Done with special

Que diferença ela tinha?
Qual número inacreditável usaria para conquistar toda a corte?
No espelho o rosto é sempre o mesmo: vermelho por inteiro
Mas a história continua se repetindo
Tamanho fascínio
Recendido por quem não consegue sorrir
Sem transformar mundos

Gostava tanto do simples
Queria o simples para ela também
Mesmo que houvesse possibilidade de jamais o ter

Enquanto isso, pensava em se isolar de tudo,
Afastando qualquer mal que possa vir a fazer indiretamente,
Como se, com isso, pudesse resolver os problemas
Não chegando a causá-los

Mas é tão triste e solitário
Saber os efeitos de meros olhares
E, dessa forma, ter que manter as pálpebras cerradas
Perdendo tanta beleza em viver

Aposto que o rosto está vermelho agora
Enquanto ninguém olha, está vermelho
E a história sempre se repete
Mas, assim como o sol volta ao seu lugar,
Todos têm um papel a desempenhar

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Rei do castelo

De que forma fostes eleito, grandioso Rei?
E, desconsiderando o processo eletivo,
Quem levantou teu nome como opção?
De todo sangue azul conhecido
Jamais imaginei tua vontade em reinar meu castelo
Tão pouco que você considerou a possibilidade de fazer parte de mim
Até onde sei.

Mas o dia chegou
E, caminhando por sobre as pedras frias,
Deixastes teu cheiro
Tomando para si
Tudo que havia pertencido a mim.

Não sobrando escolha ou fuga,
Também eu virei pertence de ti
De teu trono, morada do meu coração,
Passastes a comandar todo o vilarejo

Fechou os portões, aprofundou os fossos
E lá permaneceu cultivando os campos de alimento
Manteve as janelas abertas para não faltar sol.

Não conteve sorrisos ao povo,
Já não havia razão para esconder o sentimento:
Se encontrava exatamente onde queria estar.

E o castelo foi bem cuidado
O feudo prosperou em suas mãos férteis
Meu coração jamais ficou seco despedindo-se do sangue
Porquanto não conseguia mais deixar o pulsar

Não fui eu a responsável por sua chegada
E, como era o certo,
Não precisei me esforçar em evitar tua partida
Apossou-se de meu território
E, de nosso castelo, me fez rainha.

Magic girl of funny noises

Não precisei de muito para enxergar,
Além das janelas e cortinas,
E encontrar você
Descansando uma das mãos em teclas
Outra em lápis aquarela
Enquanto criava um mundo melhor.

Veio, sacudiu os cabelos
E sorriu.
Ignorando que é preciso mais que isso para conquistar alguém
Acabou por me deixar rendida
Sentindo que a verdade é que não faltava mais nada
Percebi que tudo que era necessário era encontrá-la
Vê-la real dando esperança para crer em salvação
Envolta de luz e eternamente especial

Como eu poderia não ser tão feliz?
Me alegrar facilmente com simplicidade
Uma vez que conheço tanta coisa boa
Boa como você,
menina dos barulhos engraçados,
um anjinho para mim.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Alegria

Esta alegria que sinto agora
Do que me serve se,
Sendo intransferível,
Não posso te entregar numa bandeja
Como há muito tempo gostaria de fazer?

Não entende?
Não vejo o sorriso que tenho:
O que me interessa é o teu!
E para que me preencher
Se não posso te completar?
Para que serve confessar os pecados
Se o ato não iria te salvar?
A melhor coisa do mundo
E me vejo de bracos cruzados
Obrigatoriamente cruzados

Trocaria de lugar com você
Hoje e sempre
Mas tudo que posso fazer é tentar te guiar
Tentar, insistir. Recomendar e pertubar
Não posso andar o caminho por você
Tão somente posso garantir que estarei ao teu lado
Sempre que precisar




sexta-feira, 29 de março de 2013

Poesia pra você :)

Te devia um poema
Já que roubei teus sorrisos
Mas é difícil escrever
Se você me rouba as palavras

Aliás, é tudo culpa tua
Se te deixo feliz é porque sou
E, se sou, é por causa de você
Simplesmente por estar aqui

Desde a vontade de dar bom dia
Até vontade de morar no teu abraço
Tudo é responsabilidade de quem cativa
Não é, Pequeno Príncipe?

Então fica aqui uma prévia
Do que quero te escrever um dia
Quando minhas palavras voltarem
Obrigada por tudo

Tempo

Ele sabia que não era o momento certo. Queria não saber, porque sentia em seu coração a vontade de avançar e gritar tudo que estava cansado de dizer para si mesmo. Mas, maldito caráter, maldito pensar; não o deixavam seguir em frente. Por que o tempo tem que ser tão cruel? Nada pode independer dele de modo que funcione, atemporalmente? Mas não, não funciona assim e eu sei que não. Por isso prefiro o romance irreal, as cenas imaginadas enquanto o corpo só se envolve com a cama e seus cobertores. Prefiro criar o que acontece entre nós e manter só pra mim. Assim não te machuco, apesar do que causo em mim. Você sabe sobre o tempo. E eu, infelizmente, também.

sábado, 23 de março de 2013

Dia de domingo

por Marcio Fujarra e Roberta Albano

Eu gosto do domingo
Eu posso sentar e fazer nada
Sabe
Simplesmente fazer o que eu quiser
Jogar, ver tv, andar, comer, dormir
Posso ser eu mesmo em 24 horas
Sentar e ver filme
Deitar
Ler livro
Ou apenas viajar
Olhando pro nada
Dia de domingo é dia pra eu sentar na rede e olhar o céu de noite
Ouvindo musica
- Sim, musica.
É dia de caminhar sem ir a lugar algum
É dia de se esticar muito na cama antes de levantar
Dia de bocejar preguiçosamente no quintal vendo um dia lindo
Dia de cantar alto sem se importar com a vizinhança
Dia de cafuné
- Tá, todo dia é, mas domingo é mais.
Dia de tomar sorvete
Dia de botar seu casaco velho pra deitar de conchinha com a pessoa que você gosta
Domingo é dia de reciprocidade.
E de jogar videogame de meias
Domingo é dia de te ver sendo fofa na sua totalidade
Domingo é dia te devolver o cordão que peguei emprestado por  uma semana no domingo passado
Mas também é dia de tentar convencer você a deixar o cordão comigo por mais tempo
- Eu amo domingos
- Eu também amo

quarta-feira, 20 de março de 2013

Outside

De todos os defeitos do mundo,
Me sobra a memória de você sorrindo
E me dizendo o quanto linda eu sou
Não importando a falta de maquiagem
Ou minha preferencia por roupas largas e velhas.
E você costumava dizer que preferia assim
E eu, confortável, conseguia sentir mais do teu abraço

Por que tive de nascer tão frágil?
Enquanto consigo me endurecer 
Para proteger tanta gente que amo
E não importa que eu tente ajeitar o cabelo
Ou vez ou outra use uma roupa bonita
Isso nunca vai me mudar de verdade
Resolver minhas inseguranças
Ser alguém normal

Não fico assim sempre
Mas, neste exato momento, 
Não aguento mais me sentir diferente
Não se eu não tiver quem faça sentir inclusa
Para que eu finalmente pertença a alguma coisa

Por que não consigo deixar de ser a esquisita?
Eu poderia ser tanta coisa mais
Mas é dessa forma que me prendo nas memórias 
De pessoas que não sabem quão mal me sinto

segunda-feira, 18 de março de 2013

Angústia

*Poesia retirada dos meus lixos de 15 anos, para quem quer me conhecer melhor. Falta estilo, mas a mensagem ainda é válida, mesmo tantos anos depois.*

Sempre amanhece no fundo da cidade
Onde os anjos cantam e os seus olhos se escondem
Janelas fechadas, cantar sem parar
A luz não quer entrar
Sonhos se acabam
Reluzem, retraem
Minha vida cai no chão, reparte-se
Em pedaços que não posso unificar
Eu sempre quero mais
Eles querem o mesmo
Estão vindo e voltando
No vai-e-vem dos raios de um sol
E as nuvens bailam
Meu céu de acabou
E as estrelas desabam
Sobre tudo que eu amo
É assim que vivo meu show
Num palco vazio
Ninguém me vê
Doce teatro trancado
Trancado há séculos
De onde eu não posso sair...

sábado, 16 de março de 2013

Tempo

Queria saber do que adianta
Tanto fugir daquilo que se quer
Se tão somente o próprio sentimento
Já é responsável por te prender de forma igual
Queria ser livre, sim
Mas liberdade mesmo seria não pensar em você
Desperdícios foram feitos no caminho de esquecer
E, nas transições entre sentimentos,
Queria não perder aquele que me faz sorrir
No entanto, percebo que a ação não se concretizou
E ainda não te deixei virar canção de bar
Se tento te afogar em drinks
Te salvo enquanto os viro na garganta
Então você pode respirar novamente
Enquanto eu permaneço aqui
Entre o passado e o futuro.
Sem coragem de seguir adiante
Mas com caráter para não voltar atrás.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sorriso em sépia

Por qual motivo me pego a lembrar do sorriso teu?
Justo eu
Sempre em controle de mim
Somente encontrando-me cercada pelos pensamentos programados de antemão
Como não vi fugir o poder da criação?
Da escolha;
Posto que não planejado,
Estaria teu sorriso dominando minha vontade?
Reinando minha mente
E, contraditoriamente, animando minha existência?
Este sorriso que ostentas,
Quem há de ser responsável por sua pintura
Envolto em nobre moldura?
Seria um verdadeiro artista,
Ou seria um sentimento real,
Aquele, ou daquele, que angulou a forma com esmero?
Não saberia dizer.
Em anos ainda não haveria resposta
Somente talvez fazendo-se bodas da falta de conhecimento,
Você haveria de tomar-me a mão
E, repousando-a em teu peito,
Permitiria a mim a liberdade de encontrar a resposta
Nas batidas de teu coração.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Tequila

É um sentimento de intensidade causado pelo calor do álcool no corpo. Eu cruzo o salão passo a passo mais perto de te fazer meu. Os olhos fixos como os de quem não possui inibição e eu chego a você. Poderia perder muito tempo pensando no que dizer, mas opto por finalmente descer as pálpebras demonstrando vulnerabilidade pelo primeiro momento. A confiança de que você vai corresponder se precipitando em direção aos lábios vermelhos entreabertos extingue a hesitação, possibilidade contudo ignorada. Enfim a música dá ritmo ao contato físico, progredindo em ritmo acelerado. No momento em que os sentidos começam a falhar tornando os pensamentos confusos e primitivos, o coração acelera e o corpo responde transformando os beijos em mordidas. Muitas pessoas em volta, além da fumaça aromatizada anestesiando a lógica, e parece que nada mais existe: tudo é ofuscado. Meu rosto escorre pelo pescoço suavemente absorvendo todo o perfume enquanto suas mãos alcançam minhas costas e as aproximam de seu corpo com força. Instintivamente, inicia-se uma pressão de encontro à parede que arrepia a pele até que a excitação se torna completa. Apenas dois desconhecidos testando seus limites antes de voltarem para seus caminhos individuais, como sempre é.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Soulmate

Não tenho dúvidas de que existe alguém nesse mundo que me entende, que me lê com tanta facilidade que acho que fui escrita pelo contato com ele mesmo. Que me responde sempre o que eu preciso ouvir. Que é exatamente quem é, e eu aceito integralmente, mesmo sem fazer parte do meu próprio ser.
Esse texto é para você e não teria como ter outro título que não fosse "Soulmate".

Ao fim do dia, tenho a oportunidade de repousar a cabeça sobre um macio travesseiro, acomodando o corpo ao calor do conforto de minha própria cama. Um momento para refletir sobre o que é importante. Ao questionar-me, acabo por me deparar com as lembranças de você e o quanto você significa. O modo natural como entrou em minha vida. A forma não tão natural com que eu lutei para que ficasse. Tantas barreiras, quando você se sentiu frio demais para deixar alguém se aproximar. Tantas mudanças, pelas quais nós dois passamos. E, mesmo assim, cá estamos, velho amigo. Antes de você, classificava melhores amigos como passageiros - não na intenção de desmerecê-los, mas aceitando que assim é a vida. E, então, descobri que você foi meu melhor amigo todos esses anos e simplesmente não deixou de ser. Você é o tipo de pessoa que eu não puxo muito assunto na internet só pela limitação de querer falar mais do que o processamento de dados aguenta. E o tipo de pessoa que me faz aguardar ansiosamente o encontro. Com você, posso conversar dias inteiros, sem pausa para dormir ou permanecer em silêncio sem que ele se torne constrangedor. É engraçado o quanto costumo ser cabeça dura, mas isso não funciona muito bem com você, uma vez que dificilmente discordamos ou, quando é o caso, eu compreendo tão bem seus argumentos que não os desafio. Está entendendo o quanto você é importante só de ver que minha cabeça dura se amolece para aceitar o que você define? Se isso não conta como demonstração do que sinto, talvez nada mais funcione. Às vezes eu nem acredito que eu realmente te encontrei. Até onde sei, você pode ser imaginário, me completando e me enchendo de alegria. Mas acho melhor não entrar nos méritos de realidade; além de ser uma questão confusa, não vem ao caso. O que deve ser ressaltado é que eu não seria tão feliz se não tivesse te conhecido. Nunca teria me sentido tão segura de que uma pessoa pode cuidar de mim como você cuida e de que eu teria vontade de retribuir cada carinho. Você merece, não de forma imatura e vulgarizada espalhada para qualquer um, mas o meu verdadeiro: eu te amo.

Sunny day Philadelphia

Então veio o dia de sol
E você encontrou seu amor
Aposto que foi o mesmo sorriso
Mergulhado no sorriso dela
Espero que tenha existido
O mesmo olhar profundo
Que um dia se fixou em mim
Qualquer coisa menos que isso
Seria uma perda de tempo
Mas não tenho certeza
Se o timbre da voz encaixou
Que o sol clareando o dia
Também esquentou seu coração
Se tivesse certeza,
Saberia que é quase a mesma história
Tudo de novo
Exatamente como espero que seja

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

The back-off bitch

Eu vejo seus olhos
O escuro apenas os emoldura
O frio facilita a lentidão
E eu os encaro

Você age como se eu não percebesse
Continua como se eu não tivesse visto
Enquanto é difícil já não te ver como um livro
Linhas tão definidas e entrelinhas inexistentes

É apenas o que você é
O vazio que tenta sugar a vida em mim
A personagem cuidadosamente esculpida
Enquanto estou acostumada com a literatura

Obrigada pela inspiração para escrever
Pelo sangue pulsando nas veias em fúria
Que acaba por deixar minha pele mais bonita, irrigando-a

Eu já abandonei muitas pretensões sobre meu ser
Deixei de me iludir com as qualidades
Mas me encontro certa de que existe algo que eu não sou
E eu não sou alguém como você.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Bela atriz

E se tudo que ela disse for real?
Desde os barulhos no chão
Até os rostos nas sombras?
Porque se houvesse verdade em sua sentença
Teria que entender a falta de medo nos olhos
Ausência de procura por colo
Mas não.
Somente constatou que havia algo entre nós
Além dos móveis velhos.
Quanto mais eu tentava dar realidade àquelas palavras
Mais passos para longe ela caminhava: ela fugia;
Procurei por tons de loucura em seus olhos
Encontrei apenas um castanho profundo
E o brilho forte causado pela certeza de suas próprias palavras.
Fui invadida por sua convicção
Até sentar-me, transtornada.
Eu nunca vi nada que não fosse concreto.
Mas não mais precisei ver para ter fé.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Talvez o que mais doa seja a certeza de que a dor é o caminho certo. É difícil aceitar a dor como companhia e, ao mesmo tempo, é inevitável, por não se tratar de escolha. De todas as direções que a vida poderia tomar, quem poderia saber que o que você julgava serem tentativas para alcançar a felicidade te levaram até uma derrota cruel, mas sincera. Até um ponto em que sinto frio sem seu calor. E não consigo pedir uma porção de pão de queijo com mate e limão, por causa do cheiro da alegria que não suporto não possuir. Simplesmente não é justo que essa seja a escolha certa, mas é. E causa dor do mesmo jeito. Sinto falta do mesmo jeito. Machuca do primeiro sorriso até a partida sem bilhete. Mas, no fim, tudo que importa é que tenha valido o esforço que ambos fizemos e que as lembranças te tragam felicidade se em um momento você se sentir sozinho.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

He gives me wings
He teaches me how to fly

He said that I will be the best
Whatever I do

And with sparkling eyes he said:
"Daughter, when you have success
I will be the first
To clap my hands with pride"

Now I miss him so much
But I know that I have learnt so much with him.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Anjos Descalços


E se eles estão entre nós?
Disfarçados de espelho,
Pés tocando o chão
Como se fosse liberdade
Simplesmente esperando
Até que alguém perceba
A dimensão de tudo.
Então a cabeça dói
Sangue escorre;
Pulsa;
Esporra;
Respinga;
Contamina outros.
Por que pensar no impossível?
O alcance não precisa ser entendido.
Quem são eles para dizer
Que você não conseguiu voar,
Apenas morreu ao tocar o concreto.
Existe algo livre agora
Pairando pelo universo
Então você conseguiu.
Anjos espalhados nas ruas
Nos lembram de pensar
Pensando, tudo se esfumaça
Não há sentido e você tenta fugir
Você tenta correr, porque é mais difícil.
E volta o sangue.
É tudo tão confuso.
Mas eu sei que um dia vamos entender.