sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Hoje

Hoje eu acordei me sentindo completa. Eu, que já tinha me acostumado a acordar pedaço. Respirar e viver como um caco de gente. Perder minha mesmice no ópio. Mergulhar minha cabeça em álcool. Eu, que sempre adorei estar só,  me escondi em tumultos; evitei o silêncio. Ignorei a inspiração. Usei a boemia como distração.
Hoje... hoje não.
Hoje eu vejo na chuva uma razão para escrever. A cabeça ainda no travesseiro, mas a luz não incomodou. Transbordei em mares de poemas a serem escritos, usei minha pele de rascunho. Senti o coração batendo e esquentando o sangue.
Hoje acordei sorrindo para o teto. Sentindo o conforto da mantinha macia. Estiquei o corpo até os pés saírem da cama. Só para senti-los mais quentinhos retornando para a coberta. Tomei café na sala, luzes apagadas e cortina fechada. Sem série. Sem música. Apenas comi sem algo que roubasse minha cabeça do momento que vivo.
Meus olhos emocionados. Meu corpo querendo pular. Mal posso conter o sorriso.
Hoje eu, que estava perdida, voltei.

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