quinta-feira, 20 de junho de 2013

Lado B: Ele

Eu nunca vi um sorriso tão lindo - ele pensou.
"E os olhos refletem o céu. Já passei na frente dela três vezes e tudo que ela faz é abaixar a cabeça; não me encara quando a olho. Rabisca algo que nem sei o que é mas parece interessante por ser. Não ousaria incomodá-la. Inexplicavelmente, sinto que ela poderia ser tudo para mim e logo em seguida temo que muito seria demais, e eu seria pouco. Não nego que me esforçaria, mas como poderia lidar com um brilho de desprezo naqueles olhos?"
Ele procurou uma posição no ônibus que permitisse continuar a ficá-la pelo vidro embaçado, contando os segundos para que a miragem desaparecesse. Sabia que por motivos culturais era esperado dele alguma iniciativa. No entanto, ela parecia tão desinteressada.
"E como poderia estar diferente disso? Ela, quase um anjo, notavelmente especial e sem comparação com qualquer um que passava. Se ao menos ela soubesse que eu só tenho olhos para ela... Se bem que nesse caso eu seria apenas mais um; mais uma figura desbotada no quadro dela."
Como alguém que não tinha valor, ele seguia os dias olhando para o mundo, de fora. Nunca chegou a participar. Se sentia frágil diante de todas as hipóteses ruins e pouco para tudo que pudesse lhe acontecer de bom, não digno de merecimento. Como caracterizar como vida algo que nunca existiu? Algumas pessoas acham que não têm que mudar. Mas sem melhoria estamos só andando em círculos; talvez em espiral para baixo, nos afundando no poço.

2 comentários:

Gabriel Passos disse...

Sem melhoria, será que estamos realmente andando? Ou apenas tendo a sensação de movimento?

Roberta Albano disse...

Não estamos indo a lugar algum :)

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