quarta-feira, 16 de abril de 2014

Observador

Ela tinha mesmo essa estranha personalidade. Do tipo que nos faz sentir bobos pelas crenças que temos e, normalmente, não percebemos que são tolas. Quer dizer, tolas não! Deixei que ela entrasse em minha mente uma vez mais. Perfeitamente cabíveis, isso sim eram! Mas toda vez que a olho diretamente nos olhos, ou encontro um sorriso preso num dos cantos dos lábios, tenho dúvidas. Talvez nem dúvida seja a palavra correta. É mais como uma certeza de que estou errado.
Ela ri do que sou e tudo que quero fazer é provar a ela meu valor. E... por quê? Sem que eu sequer notasse quando começou, a opinião dela sobre mim valia mais que a minha própria. Ela me desafiava. E eu, que nunca havia me preocupado em definir meus conceitos, apenas vivia. Cumprindo as obrigações. Desfrutando dos hobbies. Nunca parei para analisar minhas intenções e objetivos. Observar as pessoas que me cercam e os ambientes que cercam nós todos.
Cada pergunta que ela arremessava contra mim fazia com que eu me sentisse menos real. Como se nunca tivesse experimentado a vida como devia ser. Como se o meu ser se resumisse a uma mera existência. Mais uma pergunta e era como se eu estivesse dormindo antes de conhecê-la e o que eu tinha por memória eram apenas sonhos. Irrelevantes; descontinuados. Já ao lado dela eu me sentia acordado. O ar parecia menos artificial e mais leve. Era tão fácil flutuar que as vezes os papeis se invertiam e parecia ela o sonho.
Droga. Ela me fazia pensar. E pensar chega a doer.
Será que era melhor estar adormecido? Inerte; reativo.
Acho que no ponto que se chega a essa pergunta, já não há mais volta.

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