segunda-feira, 5 de maio de 2014

Coruja

Nunca reparei que tinha os olhos vermelhos, como se fosse finalmente consumida pelo mal que a preenchia. Até que um dia, repentinamente, fui invadida pelo mesmo pacto de sangue, aquele que amaldiçoava meu tempo livre e exibia cada signo de forma torturante.
A encarei. Mantive seu rosto colado enquanto o olhar penetrante perfurava minha córnea. Sem piscar.
Aquele vermelho, pensei nas escalas, só poderia ser um novo tom. Como fogo encoberto por sombras ao mesmo tempo que reluzia com poder absoluto.
Permaneceu na mesma posição. Não havia mais segredos para mim. Qualquer palavra que dissesse seria tão desnecessária quanto imaginar como situação algo que não era, e nunca seria, uma opção. Estava lá porque queria, qualquer fosse o fator externo que a fizesse querer. Não havia divisão de conta, nem espera para usar o banheiro. A responsabilidade era somente sua de trocar as lentes e sair pela porta.
Vi a mim mesma refletida nos lagos de sangue. Talvez lutando sua própria luta tenha, sem querer, apresentado a mim a inércia, para que eu descobrisse sozinha o poder da reação.

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